O THC não mata nem mói.

Parece que está aí à porta mais uma marcha (lenta, com se querem as marchas) pela legalização do consumo de cannabis e, penso eu, de haxixe, de charros, vá. Estão aí à porta também as piadas dos humoristas referindo o estado alterado dos manifestantes e a indignação da populaça genérica, das gentes para quem tudo no seu mundo é quase perfeito e a grande causa dessas imperfeições é um bando de gajos alegres e um leve cheiro a especiarias não identificadas no ar. Porque afinal é este o maior incómodo que um “charrado” pode causar. A verdadeira razão da proibição do consumo deste tipo de estupefacientes é para mim um mistério. É um cisma que ninguém sabe bem como e quando foi criado mas que teima em subsistir como uma barata numa hecatombe nuclear; mesmo depois de cismas muito mais profundos como o aborto voluntário e o casamento de homossexuais terem caído, aquele subsiste e não sei porquê. Não é apenas uma questão de um partido se levantar e propor a alteração da lei na Assembleia da República. A populaça genérica, a turba, é que precisa que lhe expliquem o que verdadeiramente é e o que faz a cannabis. Não vou estar aqui a explicar o benefícios e os malefícios do consumo dessa intrépida planta. Basta dizer que se consome há séculos, seja para fins terapêuticos – lembro-me de uma senhora que foi presa por dar chá de cannabis aos utentes de um lar e eles estavam bem tristes quando lhes disseram que não ia haver mais zurrapa daquela -, quer para fins recreativos, quer para fazer cordas e tecidos. E há menos de 100 anos vá de proibir a dita planta por todo o lado. Diz-se que aliena as pessoas, mas há muito boa gente que nasce já assim e não é por isso que são menos que os outros.

A legalização só traria benefícios para quem consome e para quem não consome. Diz-me o Público que no ano passado a Califórnia arrecadou 1.6 milhões de dólares depois de ter legalizado a supracitada planta. Ora, florescem os agricultores que a podem produzir; floresce o estado que recebe impostos de quem consome; agradecem os consumidores que obtêm assim produto de maior qualidade por um preço livre de especulações e de demasiados intermediários na cadeia de consumo; e desaparecem os traficantes e os passadores que a bem da verdade só são uns chulos da sociedade porque essa mesma sociedade os deixa existir.

Irá sempre haver quem consuma e haverá sempre quem venda. E qualquer estado que proíba um volume de negócios tão grande está a perder dinheiro, fardos e fardos de dinheiro, porque podia ser o topo da cadeia “charrista” e só não o é porque não quer.

Ainda há o argumento, muito engraçado por sinal, de a cannabis ser a porta de entrada para o mundo das drogas duras, aquelas que viciam mesmo a sério e estragam vidas e não sei quê. O problema é que essa discussão já mete questões sociais, culturais e mesmo económicas ao barulho e não estou com paciência para ir por aí. Quem fuma um charro quer relaxar, ou rir, ou divertir-se um pouco; quem dá um chuto de heroína quer morrer. Não vejo como uma coisa poderá levar a outra.

2 pensamentos sobre “O THC não mata nem mói.

  1. A proibição geral começou, salvo erro, no início do século XX, quando a indústria da madeira se viu ameaçada pela produção de cannabis, que iria ser utilizada para fazer papel

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